Vários estudantes e
colegas fizeram questionamentos sobre o momento político que estamos
vivenciando, o que denota algo bom e raro em dias de batalhas: o sujeito
coloca-se na condição de ouvinte! Diante disso, expresso meus sentimentos em
relação ao que parte da sociedade brasileira está denominando de Golpe. Esse
termo não está alinhado com o Golpe Militar que ocorreu em 1964, mesmo que a
causa, a força e os discursos da mídia e dos setores mais conservadores da sociedade
sejam exatamente os mesmos. Na verdade, não é a tomada do poder pela força
bélica/militar: é o boicote ao governo Dilma em que sujeitos que fizeram parte
do governo, se aliaram ao governo em tempos de conveniência, mas que, por
motivos também convenientes (pra eles), estão forçando um impedimento sem
legitimidade para governar e atender os interesses das classes dominantes e das
grandes corporações internacionais, sobretudo àquelas ligadas aos combustíveis
fósseis. O enredo é claro: líderes de partidos conservadores emergiram em
cargos importantes, como a presidência da Câmara e do Senado, além da própria
vice-presidência, imbricaram-se com o Poder Judiciário e, aproveitando-se da
conjuntura de fortalecimento das instituições viabilizadas pelo próprio governo,
locupletaram-se em acordos, conchavos e achaques para derrubar a presidente da
República. Então é mais do que apenas um golpe; é a utilização de meios
escusos, do fortalecimento da tríade Congresso-Judiciário-Mídia para que o
plano funcione: derrubar um governo legitimamente e democraticamente eleito
para regredir o país à época das Capitanias Hereditárias. De fato, nunca nos
libertamos da questão “hereditária”, uma vez que o nepotismo, a formação do
político profissional, advindo das famílias e sobrenomes das elites ainda
infestam o poder e governam na contramão da viabilização de bens de consumo
coletivo para os trabalhadores e seus filhos. Governam para que os interesses
dos proprietários dos meios de produção e dos agentes sociais hereditariamente
constituídos sejam realizados. Governos que tentaram quebrar esta ordem
sofreram atentados e retaliações e não puderam governar. A República, de fato,
nunca funcionou quando deveria ser República. Mais uma vez vivemos neste
período conturbado, em que acaba prevalecendo a criação de forças a partir da
construção de uma alienação social. Parece que vivemos em um período que esta
alienação social torna-se também espacial e jurídica: sujeitos furiosos, enraivecidos
e cheios de ódio querem, a todo o custo, com um discurso de fim de corrupção,
mantê-la para que o status quo de uma
hegemonia que foi erodida nos últimos governos populares possa ser novamente
construída, sob uma roupagem de fim da corrupção, quando na verdade, a ideia é
mantê-la. Desejo força à Presidenta Dilma e manifesto apoio incondicional para
que sujeitos que possuem alinhamento com a corrupção, como Eduardo
Cunha (PMDB), Aécio Neves (PSDB), Beto Richa (PSDB),
Paulinho da Força (Sol.), Mendonça Filho (DEM), entre tantos outros crápulas e
usurpadores da paz, da ordem social e dos recursos públicos, sejam, de fato,
inviabilizados em seus cargos e intenções, para que a República
possa voltar funcionar. O ataque não é feito à Presidenta Dilma, somente. É um
ataque à democracia e à ordem pública.

Doutor em Geografia pelo PGE-UEM - Programa de Pós-Graduação em Geografia, membro do GEUR - Grupo de Estudos Urbanos e do Observatório das Metrópoles - Núcleo R.M.M. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR Campus Avançado Astorga).